A FLOR E O BEIJA-FLOR
O som e o perfume que os rodeiam
Não sei se começo a escrever um romance ou um relato, tipo um breve artigo de cunho acadêmico. Tenho pensado em perfumes, sons, odores, notas musicais, que consequentemente me conduzem a possibilidade de sair de um mundo musical tradicional, organizado em harmonias concretas e previsíveis. Estou num momento, onde preciso de outros sons dentro de mim, e acho que sempre foi assim: procurando outros sons.
Por isso, por estar assim, imaginei o som do bater das asas de um beija-flor e lembrei do seu canto. Fui pesquisar para atualizar minha imaginação e me deparei com artigos e vídeos diversos, revelando a maravilha destas duas formas de manifestações sonoras.
E achei, pelos googles e youtubes da vida, uma grande quantidade de registros e artigos de asas batendo e produzindo diversos tipos de sons, e maior ainda, é o registro dos cantos dos colibris. Seu canto, na maioria das vezes, é um silvo repleto de pequenos e rápidos estalidos com pausas. Um ou outro beija-flor, possui um canto mais refinado, com alguma breve melodia ou um prenúncio melódico.
Embora semelhantes, os cantos, principalmente em suas formas, apresentavam pequenas diferenças e detalhes específicos de cada um. Diferenças nas alturas, uns mais agudos e outros ligeiramente mais graves. Na duração também; uns mais longos do que os outros. E por fim, a intensidade seguia as mesmas variações de beija-flor para beija-flor. Uns mais fortes, outros mais fracos e até sons ultrassônicos, inaudíveis ao ouvido humano.
O bater das suas asas produz um som denominado de zumbido. Esses sons também vão variar de acordo com cada espécie de beija-flor. Pois o zumbido também, assim como os cantos, podem ser mais fortes e mais fracos que os outros. Enfim, não quero me alongar nesse universo técnico sonoro, de intensidade, durações e alturas. Pois, como disse, preciso começar a romantizar esse texto, para satisfazer uma ideia, quase uma fantasia, a saber, uma relação amorosa entre a flor e o beija-flor.
Tudo começou, quando estava fotografando a natureza, e por sorte do acaso Divino, um belo beija-flor passou veloz zumbindo com seu bater asas perto do meu ouvido, e freneticamente parou como uma estátua na frente de uma flor. Era possível escutar zumbido de suas asas, e o som do seu canto alegre característico dos beija-flores. Nesse momento, depois de tirar algumas fotos, percebi que o pequeno pássaro, exibiu o seu ballet sonoro, com seu canto e o zumbido de suas asas para algumas flores. Parecia uma exibição de acasalamento. E certamente era. Por sua vez, em frente ao beija-flor, aparentemente silenciosa a flor, ou as flores deveriam estar exalando seus perfumes, estimuladas pela exibição do beija-flor. Percebi, naquele momento, uma relação amorosa, uma cena de amor. Imaginei que, possivelmente, e por que não, as flores além do perfume, emitiam para o colibri, sons atrativos, sedutores e inaudíveis aos nossos ouvidos.
A ciência já descobriu que as plantas também emitem sons e que não somos capazes de escutá-los. Esses sons são ultrassônicos, com frequência entre 40 e 80 Hz. A audição humana escuta até aproximadamente 20 Hz. Mas cá estou eu entrando novamente com dados científicos no campo da poesia. Eu avisei no início que poderia ser assim.
As flores, assim como as plantas, emitem odores invisíveis, invisíveis como também são os sons. Tanto um, como outro nos inebriam, trazem lembranças de momentos que passaram, mas que continuam vivos, presentes em nossa memória. Tenho certeza que o leitor deste breve texto, de agora em diante, ao se deparar com um beija-flor pairando no ar em frente a uma flor, lembrará que ali, naquele breve momento, estará acontecendo efusão de sons e odores. Uma troca de sensações amorosas intensas e delicadas, que acontecem e continuam acontecendo a todo instante sem que nossa percepção consiga detectá-las. A essência de nossa vida se passa nos pequenos detalhes da natureza.
José Henrique Nogueira
Mestre em educação musical
Musicoterapeuta