domingo, 25 de dezembro de 2016

MUSICOTERAPIA PARA TODOS

    MUSICOTERAPIA  PARA   TODOS
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www.espaco23.com. Tel. 4141.3846



A musicoterapia atualmente acolhe e ajuda um número cada vez maior de indicações em todas as faixas etárias. Na psiquiatria ou saúde mental, na reabilitação motora, nos mais diversos tipos de síndromes, a música há muitos anos vem contribuindo e proporcionando muitas aberturas e muitas alegrias. Pessoas com Alzheimer também se beneficiam muito com a musicoterapia. No autismo, nos transtornos de déficit de atenção e hiperatividade, os resultados são maravilhosos. Enfim, são muitas as contribuições da musicoterapia no campo da saúde, mas o que tem chamado muito minha atenção é o fato de pessoas sem nenhuma indicação, digamos assim, médica, sem nenhum distúrbio aparente, estarem querendo conhecer os benefícios da musicoterapia, por exemplo, para se aproximar da música que esteve adormecida durante muito tempo e até mesmo bloqueada por motivos diversos. (A musicoterapia, diferente da educação musical, possui técnicas e atividades propícias para facilitar os desbloqueios.) Assim também, pessoas, tanto jovens como adultos, que passam a procurar a musicoterapia para contrapor o estresse diário. Os jovens ficam muito tensos com as cobranças da vida escolar, e os adultos encontram na musicoterapia um momento de bem-estar e reflexão através da música para continuarem seus caminhos regendo seus trabalhos, suas famílias, seus círculos sociais de maneira harmoniosa. A música  com a musicoterapia tem a capacidade de harmonizar o indivíduo e o grupo.

José Henrique Nogueira
Mestre em Educação Musical
Musicoterapeuta



            Se gostar deixe um comentário por favor. Obrigado



segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

E agora? Qual instrumento meu filho irá tocar?

E agora?                        
Qual instrumento tocar?


 Uma das principais questões para quem matricula seu filho, ainda pequeno, na Iniciação Musical, ou Musicalização, é: em quanto tempo ele começará a tocar um instrumento específico?
Como se sabe, na Iniciação Musical, a proposta é pôr a criança em contato com a música, de forma orientada e criativa, através de vários instrumentos. Esse processo vai depender muito do desejo da criança e do olhar atento do professor, que poderá orientá-la a partir de suas observações em sala de aula. Porém, muitas outras questões surgem no decorrer desse processo, e tentarei resumi-las aqui.
O primeiro detalhe a ser observado é o de que a criança e, muitas vezes, os pais não têm noção do caminho com regras, exercícios e tarefas que são exigidas quando se escolhe um único instrumento para tocar. Não raramente e posso até afirmar que é justamente esse fator que leva a maioria das pessoas a desistir de continuar na aula do “seu instrumento”. 
Além dos aspectos que facilitam o acesso à música, como o cultural/familiar, social e a habilidade corporal/motora e rítmica, é preciso ter desejo pela música, e perseverança para superar alguns obstáculos que aparecem. Para a maioria, um primeiro e pequeno sinal de dificuldade pode abalar a motivação. 
Por isso, é fundamental o encontro com um bom condutor, ou professor - que se adeque ao espírito do aluno, que saiba motivá-lo e trazer a sabedoria para alcançar a música, seja em qualquer direção, seja em outro instrumento, não necessariamente o escolhido pelo aluno. As pessoas, incluindo as crianças, têm muitas atividades hoje em dia, e estudar música requer dedicação. É claro, para um pequeno número de privilegiados, tocar um instrumento poderá parecer uma tarefa fácil. Vários aspectos contribuem para essa performance, que às vezes parece obra divina. Mas, para a maioria, a música chega em um tempo mais lento, pelo campo do prazer e não o da obrigação.
É compreensível a ansiedade dos pais por resultados. No entanto, fazer perguntas, até mesmo na presença do professor, como: “E aí tocou o que hoje?”, “Gostou da aula?”, “Você está gostando?”, “Já escolheu um instrumento?”, pode causar um embaraço que, em vez de aproximar, afasta. Eu também fui e ainda sou assim, com minha filha de 14 anos.  Ela gosta da aula, gosta da professora, e é isso o que importa. Se ela vai tocar e satisfazer meu narcisismo de ter uma filha que toque imediatamente tem sido, para mim, uma boa reflexão que vai para além da música.   
Costumo fazer uma analogia com a natação, que é na verdade uma brincadeira. Quando se aprende a nadar, ninguém leva a piscina para casa para treinar. A conquista se dá com o tempo o tempo de cada um , com paciência, sem cobranças, sem expectativas imediatas, pelo prazer de ir brincar com a música e de elaborá-la com alegria. 
Há 25 anos trabalho com educação musical e há oito anos organizei o Espaço 23 para atender às diversas possibilidades, fantasias, interesses, curiosidades e desejos musicais. Nesse período, alguns passaram por aqui rapidamente, outros ficaram por um bom tempo e se foram pelos mais diversos motivos. E ainda há aqueles que estão aqui há bastante tempo, construindo, brincando e elaborando a música.
Entre os motivos de desistência, além dos já mencionados antes, posso arriscar, com base nestes muitos anos ensinando e aprendendo a ensinar a gostar de música, está o fator tempo - a urgência e a pressão para aprender a tocar logo um instrumento, a sensação de que nada está acontecendo, já que a grande maioria dos alunos não toca em casa. Mas esquecem que tocam aqui no Espaço 23, que não é um espaço apenas de aprendizagem teórica, mas também de prática, de experimentação, de vivência e de escutar música. Aqui, no Espaço 23, a música tem uma função, ganha sentido, torna-se “visível”. A sensação de desânimo que aqueles que estão começando podem ter,  e até mesmo os que estudaram anos com afinco, é proveniente muitas vezes de uma questão básica que pode começar a ser explicada com uma pergunta: o que eu vou fazer com a música?  
A música é uma construção da humanidade e levou milhares de anos para sair do mais rústico bater de pedras até chegar a Beethoven, por exemplo. Essa linda evolução da humanidade em direção à música também se dá em nível individual. Somente aprender a tocar um instrumento não resolve para muitos a questão do que vão fazer com a música. A mecanicidade, o exercício, a prática não garantem nem promovem a sensibilidade e a alegria de tocar. Essa descoberta vem com o tempo, com o tempo, com o tempo…

A seguir, alguns comentários sobre o Espaço 23:

Pedro Notarorberto, 18 anos, desde 2011
Desde criança tive vontade de aprender a tocar um instrumento musical. Fiz aula em locais referência de ensino clássico de violão sem muito êxito, mas foi quando coloquei os pés no Espaço 23 que minha jornada realmente começou. O fato de não possuir uma obrigação de estudo diário fez com que a habilidade viesse com naturalidade. Isso claro sem contar o fato de que pude experimentar os mais diversos instrumentos até escolher um para me acomodar! Tive aula com vários professores (meu pai foi um deles) mas nenhum se compara ao José Henrique, com uma didática fenomenal.

Paloma Moura, 16 anos, desde 2010]
Entrei no Espaço 23 há mais ou menos cinco anos. Quando eu era pequena eu sempre quis tocar teclado e foi nesse Espaço que meu desejo foi realizado. No início, eu só sabia tocar nas teclas, sem saber exatamente o que eu estava tocando. À medida que eu tinha aula eu me aperfeiçoava cada vez mais e hoje, em qualquer lugar que tenha teclado ou piano, eu consigo tocar qualquer música desde que eu tenha a cifra por perto. Tudo isso graças ao Espaço 23 e ao professor José Henrique.
Gabi Nogueira, 13 anos, desde 2010
A minha história com o Zé começou na barriga da minha mãe, que ficava emocionada ouvindo o coral da Curiosa [Idade], que é regido por ele. Foi neste espaço que me apaixonei pela música, em todos os sentidos, assim foi fácil seguir o mestre no Espaço 23, um espaço com o jeitinho do professor, onde pude experimentar todos os sabores que a música pode nos dar. Obrigada, Zé, por despertar em mim a sensibilidade e a calmaria musical de que tanto preciso!

Marcia Figueiredo, mãe da Duda, 7 anos, desde 2013
O mestre Zé Henrique tem uma proposta superdiferente no aprendizado da música. Ainda que a criança tenha um instrumento de preferência - como é o caso da minha Duda, que escolheu o violão!,  sempre o contato com outros instrumentos, como a bateria, o teclado, a flauta e até mesmo o canto, gerando uma experiência completa neste incrível universo.

Ricardo Pontes, pai do Francisco, 14 anos, desde 2012
Não tive dúvidas quando o meu filho mais velho, Francisco, hoje com 14 anos, começou a demonstrar interesse na música ainda com seis anos. Aliado às aulas de Educação Musical na sua escola, fiz questão de complementar os seus estudos no Espaço Musical 23 do José Henrique Nogueira. Lá, além do local privilegiado e cuidadosamente bem organizado, ele poderia ter um atendimento mais personalizado, com um profissional superqualificado e com experiência no trabalho com crianças, jovens, adultos e todos aqueles que tenham interesse em se aprofundar um pouco mais nesse mágico universo musical.
A possibilidade da aprendizagem de múltiplos instrumentos, o contato com outras crianças e jovens (em aulas com 2 ou 3 pessoas), além da sempre convidativa “canja com os pais” são outros fatores que tornam este espaço mais do que um “simples estúdio”, mas uma verdadeira comunidade de troca de experiências, rodeada de carinho, afeto, respeito e claro, MUITA MÚSICA BOA! Passados todos esses anos, meu filho cresceu e amadureceu muito musicalmente. O seu repertório expandiu em quantidade e, principalmente em qualidade indo dos Beatles a João Pernambuco, de Led Zepellin a Cartola, apenas para citar alguns grandes artistas. Isso tudo é muito bacana, mas, acima de tudo e o mais importante, é que ele está tendo a oportunidade de vivenciar uma experiência musical única e que tenho certeza contribuirá para a sua formação não só enquanto músico mas, principalmente, enquanto cidadão. Salve o Espaço Musical 23! 

Claudia Duarte, mãe do Mateus, 15 anos, desde 2012
Espaco 23 é um lugar que quando se entra dá vontade de ficar. Meu filho está nesse lindo trabalho  um tempo que não sei contar. Não é disciplinado, não toca de forma virtuosa, mas é só alegria e vida essa experiência, É estar na música, tocar NELA. Passar por todo o processo. Ficar muito, muito a vontade no e com o ambiente. É isso. Uma linda e rica experiência sensória

Letícia Leme, mãe do Pedro (5 anos), desde 2014
Nunca aprendi tanto sobre instrumentos quanto nesses 2 anos que Pedro frequentou o Espaço 23. Flautas, gaitas, metalofones, bateria, pandeiros, triângulo, contrabaixo e guitarra. É sempre uma novidade divertida e especial. Obrigada pelo espaço amigos do Espaço. Com muito carinho.

Pedro, Letícia é Rogério.


Barbara Kikkawa,  mãe do João Pedro Kikkawa, 14 anos, desde 2014
O Espaço 23 é um lugar muito acolhedor e gostoso de  estar. João já passou por alguns instrumentos e hoje gosta de tocar teclado. Logo que entrou e começou a aprender a tocar violão, eu pedia pra ele tocar em casa  o que estava aprendendo, fez isso poucas vezes, se sentia mais a vontade de tocar quando estava no  Espaço 23. Resolvi não forçar pra ele não perder o interesse na aula. É uma aula que ele adora, se sente bem no Espaço e com a forma como o Zé Henrique conduz.



terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

O Ruído em Belle de Jour / Trilha sonora surrealista de Buñuel


            O ruído em Belle de Jour
    Trilha sonora surrealista de Buñuel




José Henrique Nogueira
Mestre em Educação Musical
Musicoterapeuta

Buñuel é um expoente do surrealismo no cinema – os sonhos de Catherine Deneuve interpretando a personagem Séverine no filme  Belle de Jour (A Bela da Tarde), expondo de maneira poética seus sentimentos lascivos, sádicos, líricos ou mesmo bizarros, revelam muito mais detalhes do que pretendo aqui descrever. O movimento surrealista tinha a obra de Freud como fonte de inspiração. A busca pela interpretação do inconsciente (fantasias, sonhos e devaneios) no cinema e nas artes visuais, com Buñuel, Dali, Miró, entre outros, era um dos grandes temas dos anos 1960. André Breton dizia que  Freud foi o responsável por trazer à luz aquela parte do nosso universo mental à qual “fingíamos” não estar conectados. 

Uma escuta mais atenta possibilitará perceber que não há melodia ao longo da película, só ruídos. Os ruídos acompanham as imagens em todos os momentos, principalmente nos sonhos. A ficha técnica do filme apresenta os nomes de Pierre Davoust, René Longuet como técnicos responsáveis pela edição e gravação da trilha sonora, porém, é de se presumir que Buñuel foi quem decidiu não colocar música no filme, para potencializar a trama e também por uma questão estética surrealista.

Buñuel tinha possivelmente muitos amigos ligados à música contemporânea na França. Na época em que foi lançado o filme, 1967, a música concreta, estilo que utiliza a realidade dos fenômenos sonoros, que valoriza os ruídos, apresentando uma nova estética musical, há pelo menos 15 anos já era uma realidade no mundo das artes. Vários compositores tais como: Pirre Schaefer, Pierre Henry, entre muitos outros, tornaram Paris a vanguarda da música concreta. Composições nesse estilo consideradas marcos de uma época são: “Études de bruits “estudo dos ruídos” (1948) de Pierre Schaffer;  “Le voile d'Orphee II”, de Pierre Henry. A trilha sonora do filme A Bela da Tarde pode ser pensada como uma ideia contemporânea de música, seus ruídos muito bem gravados participam das cenas nos levando a uma interação “concreta” com o enredo. 

A música eventualmente traz à memória imagens variadas, boas e más recordações, grandes amores, férias inesquecíveis. Músicas que continuamos a cantar por toda vida e que de alguma forma fazem parte de nós. No entanto, Freud não fala da música, como é sabido, e há muitas explicações, divagações e até mesmo críticas sobre essa, digamos assim, lacuna em sua obra. Particularmente, gosto do argumento de um amigo que diz: - Freud não teve tempo para falar sobre a arte musical.

Mas o ruído esteve presente em sua obra: o ruído, aquele que interfere, que é um agente provocador de uma fantasia. Sugere a possibilidade cênica de uma escuta sigilosa, do silêncio ruidoso que acompanha a atenção minuciosa aos sussurros ocasionais. O ruído escutado passa a ser o significante, uma imagem acústica, que também é, segundo Freud, a história, a lenda dos pais, dos avós, do ancestral. O ruído secreto que a criança escuta temendo revelar sua presença.

A importância do ruído nas fantasias é abordada por Freud em alguns de seus textos. Num deles, relata o caso da Emmy Von N., uma senhora com aproximadamente quarenta anos.  Ela passou a se incomodar com os ruídos depois de ter de permanecer em silêncio, imóvel, ao lado da cama em que a filha se encontrava enferma. A partir daí, os sons passaram a contribuir nos seus sintomas. "Pode-se ainda presumir que foi seu horror ao ruído produzido contra sua vontade que tornou traumático aquele momento e fixou o ruído em si como um sintoma mnêmico somático de toda a cena. 

Num outro texto, de 1915, sua paciente, na cama com seu amante, afirma ter se assustado “com um ruído, uma espécie de pancada ou estalido, vindo da escrivaninha, junto à janela”. A partir do ruído e somado ao fato de ter visto, ao sair da casa, um indivíduo carregando uma pequena caixa, ela passou a ficar preocupada com a possibilidade de a caixa ser uma máquina fotográfica. Criou então a fantasia de ter sido fotografada em flagrante com seu amante. Freud vê ,nesse caso, o ruído como o disparador de toda a cena. "O ruído acidental, assim, desempenhou meramente o papel de um fator provocador que ativou a fantasia típica de estar sendo ouvida sem saber.”

Para quem não percebeu, a trilha sonora no filme Belle de Jour, para este ela, a trilha, cumpriu seu objetivo, interferindo de maneira subliminar, intensificando as imagens, o roteiro, as interpretações. Ela fez parte do conjunto de informações sensoriais que só o cinema é capaz de oferecer. Os ruídos incidentais, imprevisíveis, ocultos, que percorrem as cenas, como o som de carruagem, miados de gatos, sinos, mugidos, vários ambientes sonoros (cidade, campo, burburinhos, etc.), fazem parte do cotidiano, da mesma forma que a história de Kessel levada para o cinema por Buñuel também faz. A Bela da Tarde é um filme repleto de detalhes que merecem sempre muita atenção. Espero ter contribuído para despertar a curiosidade de assistir novamente esse filme e conferir o quanto ele continua ruidosamente atual e belo.

Fragmento do trabalho realizado na formação em psicanálise
no Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro / 2006